Encostei o rastelo no batente da porta e olhei para o quintal, ainda cheio de folhas. Já fazia duas horas que eu trabalhava sob o sol escaldante, mas havia muito ainda por fazer. Peguei a pouca água que restava na moringa para umedecer minha boca seca. Enxuguei o suor da testa com as costas das mãos e voltei para o trabalho.

     Enquanto eu me movia, as folhas se acumulavam, assim como minhas delicadas lembranças. Quatro anos se passaram desde que meu marido, Zé do Milho, foi para o sul do país em busca de dinheiro, e as notícias desde então eram escassas.

     Minha irmã mais nova, Abadia, também me preocupava. Ela havia sido abusada por um grupo de andarilhos e, desorientada, desapareceu pelas terras vizinhas, sem nunca mais voltar ou dar notícias.

     Continuei com a lida. Ao cair da tarde, decidi interromper a limpeza do quintal e buscar água, antes que escurecesse. Os seis quilômetros até o velho lago eram duros, marcados por ranhuras na terra árida, um terreno fértil para a desesperança que me acompanhava todos os dias.

(Trecho de "O Último trago da Santa", autobiografia de Antônia da Conceição Batista, escrita por Anderson Julio Lobone)