Liso e Eloá: O amanhã da paixão...
Em tempos de consternação, um olhar cândido sobre o exercício de amar pode parecer um despropósito. Mas diante de um folhetim tão contundente, servido em conta gotas pela mídia e degustado tão avidamente por cada um de nós, restou-me apenas uma reflexão quanto aos sentimentos humanos.
O desfecho trágico e a impressionante dislexia da sociedade como um todo, são - via de regra – motivos para discussões sobre “o porquê de a policia ter entrado no apartamento” ou de “como uma menina de doze anos poderia namorar alguém tão mais velho”.
No entanto, distante de qualquer caretice ou pressuposto do que é certo ou errado nestes casos, o que mais me intrigou foi o comentário de um psicólogo paulistano que ao ser perguntado como uma família pode evitar uma tragédia destas, respondeu:
- “É preciso ter um diálogo aberto com os filhos e tentar entender o que se passa na cabeça deles” – afirmou.
Mas ora bolas, será mesmo que tragédias como estas são frutos da falta de diálogo entre pais e filhos? Cabe em algum de nós a idéia de que existe alguma razão quando os adolescentes se apaixonam?
A natureza humana é repleta de cômodos impenetráveis, de onde brotam os sentimentos mais estranhos. Como diz um amigo meu, é necessário que a cada dia estejamos vigilantes para que não deixemos se abrir as portas dos nossos “porões escuros”.
Hoje, enquanto tomava um café numa padaria na Barra da Tijuca, ouvi um comentário de uma das balconistas que me fez pensar. Ela acreditava que sua irmã mais nova estava submissa às vontades de seu namorado, quinze anos mais velho. E disse, contrariada, que há tempos a família luta para fim daquele relacionamento.
Imediatamente me veio à lembrança, a mini-série “Quem ama não mata”, exibida na Rede Globo em meados dos anos oitenta.
Uma discussão infinda tomou conta de bares, repartições, varandas e calçadas (Naqueles tempos as famílias se reuniam nas calçadas). A pergunta era: É possível se matar por amor? Essa foi a tônica de muitas conversas de esquina naquela época, e creio que agora esse seja o tema de 9 entre 10 conversas.
Estes tipos de tragédia acabam por causar muito mais que consternação e dor. São sucedidas de muito medo e censura, e com isso alguns pais amanhecerão supostamente “mais atentos” aos universos que cercam suas proles.
Contudo vale uma reflexão àqueles que como eu, assistem seus rebentos se aproximarem da primavera das paixões. Evitemos cercear essa experiência única que é se apaixonar. Não neguemos aos nossos filhos, esses deliciosos devaneios dos quais somos acometidos desde as eras mais inocentes de nossas vidas.
Ao invés da repressão, precisamos por em prática o diálogo amoroso. Em detrimento da censura de sonhos, é imperativo que nos debrucemos sobre a verdade que agora volta à tona: Quem ama, não mata. Quem mata, é o egoísmo e a vaidade.
Portanto, que tenhamos o cuidado de não tornarmos o amanhã, um terreno difícil para a descoberta dos sentimentos e dos desejos.Diante das tragédias e mazelas do mundo, acho que os nossos melhores antídotos ainda são o amor e a paixão. Quero terminar esse artigo, com um trecho de uma conversa que tive com um dos meus maiores ídolos - o poeta amazonense Thiago de Mello.
“Em um dia qualquer da minha adolescência, uma menina beijou-me a boca. E foi assim, que pela primeira vez, percebi as estrelas e a lua...”
(Extraído da coluna do autor no site da agencia de comunicação RedCafé - "www.redcafe.com.br")