O meu lugar
Um entardecer.
Foi assim que percebi o instante em que me despedi do que eu era e do que eu tinha tanto medo em deixar de ser.
Se já era difícil entender, não seria fácil explicar a quem quer que fosse.
Era abrir mão do que parecia ser o certo. Parecia ser o reto. O teto.
Era o caminho resignado, nunca contestado e de pranto abafado.
Agora era apenas eu e uma outra vida. Uma outra lida.
Sem volta. Sem clemência. Somente eu e o depois.
E nesse depois, residia o medo de cenas turvas, de frios na barriga e de pontos fora das curvas. Residia tudo o que eu não vivi.
Veio a noite. Veio o escuro. Veio o silêncio.
E então, na perfeição da hora, a mudez se fez aurora.
E minha alma a sussurrar, contou-me:
- Eis aqui, o seu lugar.
Anderson Julio Lobone
Enviado por Anderson Julio Lobone em 29/05/2021
Alterado em 15/07/2021